Wednesday, July 13, 2016

Poema "APAGÃO CRIATIVO": por Marco Antonio Jardim


Quando eu não souber o que fazer, nem o que dizer, melhor que eu saia de cena. Oh, que pena!", diriam os críticos sarcásticos de ocasião. Se esse bar fechar, eu fico só, diria Clarice numa canção. Eu mesmo diria a Vandet, apoiado no balcão. Tenho aquela inquietude intelectual que me faz devorar livros, revistas, artigos e qualquer outro manual de informação. Reflexo ou escape de alguma constante solidão? Provei o gostinho amargo do apagão e atingi o Nordeste, mas pus de lado o meu norte. Frustração. Hora de mudar de perspectiva, fazer outro teste de estúdio, outro esporte. Tiro o alvo? Tento a sorte? Não está nada fácil, publicou Lu nas redes. Fiquei, literalmente, no escuro, quase funesto. Um eclipse oculto, de tão monótono e inseguro esse meu espetáculo. Despedi-me apressadamente de Juli - e de outros que não enxerguei os rostos - porque o coletivo chegou.  Saltei no ponto da esquina, andando a esmo, sem flertes nem poesia, e até pensei se não podia acontecer algo fortuito no negrume da alameda. 


Imagino que, se alguém me tomar à força, que preserve, pelo menos, as roupas de seda.
Entretanto, o máximo que tem acontecido é eu criar imagens de rejeição à tradição.
Porque agora pago de pós-modernista em perturbação à ordem alfabética: Adélia, Callado, Dias, Ubaldo, Trevisan e outros escafandristas.
Nomes tão estranhos e informalistas quanto o meu.
Outras palavras em voga nessa disposição metódica dos dias sem sol: fascista, empoderado ou refugiado?
"Dançando na Chuva", meu pai? Não.
"Dance in the Dark"! E com direito a sample.
Nesta escuridão renitente, sou meio que caos afetado, ainda que com um sumido traço de organização.
Sou uma tela de Jansen, urbanamente sujo, descascado, grafitado, tipografado, unanimemente desconhecido, fotografado sem que me peçam licença e...só.
Talvez eu deva colocar dreads pra parecer melhor.
Talvez eu deva ser singular, porque meu subconsciente é, hoje, mais famoso do que eu.
Eu sou o neo-expressionismo latino-americano invertido.
Uma farsa burlesca.
E Jansen é quase um homônimo, ainda que o nome dele, Marcus Antonius, seja entonado com mais empostação que o meu.
Mas estou tão embaciado, que não ardo nem em fogo, nem em luz.
Pra se ter uma ideia (vaga), a palavra forte do meu dicionário cotidiano continua a ser sono.
Minha consciência está suspensa e repetitiva nesse estado.
Noutra noite, segunda-feira, numa aula de meditação, simplesmente dormi.
Segunda-feira sem segunda intenção, despertei acanhado pedindo perdão.
Eu nunca pertenci a uma família ilustre ou aristocrata. Não tenho muita cultura ou civilização.
Eu não sobressaio em muitos aspectos e não tive andamento.
Sou, por vezes, débil, cabeça de vento.
Apagadinho da estrela, é bem verdade.
Até tiro turnos para ler verbetes em bulas de remédios, como se fossem constatar o fato e a origem da minha mentalidade franzina.
Enquanto que outros, por aí, andam fazendo fila na Vip. Gente fina, descolada, inteligente, disposta a vender estilo.
O que tenho? Um pátio, uma esquina, uma mesinha de tronco com banquinhos, uma tarde que passa e uma garrafa de vinho.
Talvez eu esteja mais adequado aos que vendem mate, escapulário e biscoitos Globo.
Não sou michê, não sou gringo, não faço (quase nada) direito e não grito a paquera das redondezas.
Ando silencioso, algo que esgotado, e até nervoso, escaldado.
Não tenho passaporte, não tenho namorado.
Sabe o que me disseram da última vez? "Você é o tipo de amor que não pode dar certo na luz da manhã".
Conheci Palomino, mas quem sou eu, então, na Noite Ilustrada?
Nem sei. A última lamparina do meu poste está apagada.
Não me queixo.
A culpa é da velha chamada rotina, impondo restrições de desleixo à minha criatividade leonina.
Por favor, batam na minha cara agora e digam que ainda estou vivo!
Ops...e não é que acendeu?
Marco Antonio Jardim Melo
(inspirado na canção "Eclipse Oculto", de Caetano)

No comments: