"Heróis da Resistência lança DVD comemorativo de 30
anos." Seria a manchete dos sonhos de um número enorme de fãs da banda
carioca formada em 1986, composta por Leoni, Lulu Martin, Alfredo Dias Gomes e
Jorge Shy, que decretou seu final de 1992, um após o lançamento disco “HEROIS 3
“ .
Os Heróis da Resistência surgiu da dissidência do Kid Abelha
e os Abóboras Selvagens, quando Leoni, principal compositor da banda decidiu
abandonar o bem sucedido e promissor projeto musical.
Leoni quase lançou carreira solo, mas decidiu por novo
grupo, aliando-se a músicos de alto nível, e em 1986 foi lançado o disco
homônimo que colocou em evidência a banda que emplacou os sucessos "Esse
Outro Mundo", "Doublé de Corpo" e "Só Pro Meu Prazer",
deixando um registro que primava pela sofisticação, com um naipe de músicos
experimentados, com exceção de Jorge Shy, que se dedicava a estudar o quanto
podia, mas logo se revelando grande instrumentista.
Shy e a primeira formação dos Heróis, com Leoni, Alfredo Dias Gomes e Lulu Martin |
Foi com este cara, super guitarrista hoje dedicado ao jazz,
blues e instrumental, que bati um papo legal sobre a experiência com o universo
pop rock do anos 80. Shy é um amigo, um cara gente finíssima, que falou de sua
trajetória com os Heróis e que a qualquer momento chega em Conquista para
apresentar seu novo trabalho. Hoje jorge shy já tem 3 discos solos gravados,
com elogios da crítica internacional. Sua música instrumental segue viva e a
cada dia conquistando mais e mais seguidores.
Seu mais recente trabalho é o Somebody's waiting, que foi enviado pelos Correios pelo próprio Shy, além do disco Crossing Path, de 2013. Dois excelentes trabalhos autorais e instrumentais, que mostram o resultado da maturação e a sofisticação já conhecida com os Heróis. Além disso destacam-se o trabalho com a banda H56, que entre os seus integrantes trazia o baterista Alfredo Dias Gomes, ex-Heróis e o disco Sonho de Aviador, de 2001, primeiro trabalho solo de Shy, no qual o guitarrista apresenta uma forte influencia da musica brasileira em suas composições.
Abaixo segue entrevista com o ex-guitarrista da Heróis da
Resistência, paulista , que fala de família, das
influências musicais, do início de carreira e primeiras bandas, da ascenção e
digamos, declínio, dos Heróis, associada a episódios marcantes, "duas
bombas", como relata. "A Warner havia mudado de presidente... e o
novo “chefe" decide botar pra fora todas as bandas de Rock e que estavam
em curva de declínio... a gravadora Rock dos anos 80 e que contava com: Barão,
Ira, Heróis, Titãs era desmontada e teria início o domínio do “Axé”, lambada e
o “sertaneja Brega”. O outro episódio, uma das músicas novas e inéditas e que
abriria a novela da Globo foi cortada, levamos um golpe grande e trocados pelo
Roupa Nova. Aquilo foi o sinal de que eu deveria navegar outros mares e que meu
ciclo nos Heróis da Resistência estava no fim. Seis meses depois, o Leoni
resolveu partir para carreira solo e foi o fim da banda." Sobre um possível retorno ou show comemorativo de 30 anos dos Heróis em sua formação original, Shy responde: "Infelizmente, não!".
Maurício Sena: Vamos ao trivial:
Quem e Jorge Shy?
SHY: Nasci na cidade de São Paulo e cresci em uma casa com muita
música. Meu pai, Silvio Fernandes, um publicitário de Natal (RN), foi criado no
Rio de Janeiro na época em que o Beco das Garrafas fervilhava e a bossa nova
explodia mundo afora. Desde cedo me mostrou a obra espetacular de nomes como
Tom Jobim e Elis Regina, mas também incentivava me incentivou a escutar Glenn
Muller, Duke Ellington, Tommy Dorsey, os Beatles e Sinatra, entre outras
influências. Fui educado num colégio que ficava em um bairro onde moravam
muitos estrangeiros e descendentes de imigrantes, americanos, alemães,
japoneses, e sempre tive contato com outras culturas, principalmente a que
vinha dos EUA, coisa comum para quem cresceu em SP nos anos 70 e 80. A relação
muito próxima com meu avô paterno, Jorge Fragoso, um executivo da indústria de
alumínio, também me marcou. Em meados dos anos 30, o patriarca Jorge morou em
Bremen (Noroeste da Alemanha), onde aprendeu a construir aviões. Chegou a fazer
estágio na “Lufftwaffe”, principal companhia aérea germânica, mas o nazismo já
dominava o país e ele teve que voltar ao Brasil, enquanto Hitler espalhava seu
regime de terror pela Europa e a guerra eclodia. Meu avô me mostrou o que era
música clássica. Mas foi também a pessoa que me ensinou os principais valores
universais.
MS: A relação com a
música começa neste ponto?
SHY: Meu pai nasceu em Natal na época em que a cidade abrigava
uma base aérea dos Estados Unidos, durante a Segunda Guerra Mundial. A música e
os costumes dos americanos chegavam com força naquela ponta do Brasil e ele foi
muito influenciado por esse clima. Desde pequeno, me lembro dele me chamando
para ouvir o ‘piston’ (trumpete) do Louis Armstrong ou um disco novo do George
Harrison que acabara de sair. Foi assim que começou meu amor eterno pela
música.
MS: E a relação com as
guitarras, quando surgiu?
SHY: No início dos anos 80, a paixão pelos Beatles me levou às
aulas de guitarra. Meu pai dizia que eu deveria aprender violão primeiro e
acabei dominando os dois instrumentos ao mesmo tempo. Naquela época São Paulo
tinha um cenário de música inovador, com ótimas bandas como Tutti Frutti,
Terco, Rock Memory, Beatles Forever e Comitatus, que precederam a explosão do
rock nacional. Dois momentos me marcaram muito: a morte de Lennon, que me fez
mergulhar fundo na música, e o primeiro
show de rock em um estádio brasileiro,
do grupo inglês Queen, em 1981. Ao ouvir
aquele som ‘massivo’ saindo das enormes caixas, fiquei petrificado, encantado.
Foi ali, naquele momento, que disse para mim mesmo: É isso que eu quero fazer da vida.
MS: E como foram os
primeiros passos da carreira até chegar aos Heróis?
SHY: Foram várias bandas de escola, projetos amadores e
semi-profissionais até o início da carreira musical nos Heróis da Resistência.
Quando cheguei ao Rio, eu era apenas um garoto de 18 para 19 anos, no meio de
músicos de muita experiência e calibre internacional. Alfredo Dias Gomes tocava
com Lulu Santos e já havia tocado com Hermeto Pascoal e Ivan Lins. Lulu Martin
era um dos melhores pianistas da cidade e tocava na banda de jazz Garagem, com
estrelas como Marcio Montarroyos, Arthur Maia, Mauro Senise, Rique Pantoja entre outros. Além deles, Leoni, que vinha do
enorme sucesso com o Kid Abelha, e já era um dos grandes ‘hitmakers’ dos anos
80, completava os Heróis. Esse processo me fez crescer muito, pois estes
músicos me puxavam para cima o tempo todo. Tive momentos muito difíceis, mas eu
ia dando o meu jeito.
MS: O processo de
produção dos três discos, como se deu?
SHY: Na gravação do primeiro disco conheci Liminha. Ele é dono de
uma personalidade muito forte. Era bravo, duro, exigente, mas também sabia ser
muito gentil. Foi um dos grandes professores que tive na música. No segundo
disco, “Religio”, a banda foi convidada por Liminha, que havia
mudado para os EUA, para gravar em Los Angeles. Ele buscava bons músicos para
executar, gravar e fazer experimentos em terras americanas. Os ‘heróis’
passaram quatro meses na América fazendo a pré-produção do disco, gravando e,
depois, mixando nos grandes estúdios como o Ocean Way, onde Michael Jackson
gravou “Thriller” . “Um dia chego de carro com o Leoni e, no estacionamento ao
nosso lado, para uma Mercedes conversível e vejo saindo, nada mais nada
menos, que Mr. Burt Bacharah (pianista e
compositor norte-americano). ‘Hi Burt!’,
acenamos. Lá era assim. Quando o disco ficou pronto e a banda voltou ao Brasil,
a gravadora Warner soltou uma bomba, informando que o orçamento havia estourado
e que não havia verba para a divulgação do álbum. Era para ser o apogeu do
grupo, mas foi um revés na carreira dos Heróis da Resistência.
MS: O que aconteceu a
partir daí?
SHY: Esse disco causou várias sequelas, entre elas o afastamento de Alfredo e
Lulu, que ficaram descontentes com o
rumo que as coisas tomaram naquela época . O Cadu (baterista) entrou e fez o
trabalho do segundo disco, levando ao
palco outra inovação: um computador Macintosh de última geração, que controlava
os teclados e ‘sequencers’ e era acionado do palco. Ali eu diria que os Heróis,
mais uma vez, inovaram na música brasileira. Foram a primeira banda a gravar e
mixar um disco no exterior e levar ao palco uma tecnologia ainda inexistente no
país naquela época. O fato de ser um “técnico” nunca fez do Cadu um grande
baterista, e este foi o principal motivo para ele deixar a banda, dando lugar
ao Galli (ex - Hanoi Hanoi ), que se encaixava na nova proposta da banda de
adicionar peso ao som do grupo, transformado num ‘power trio’.
MS: E o disco Herois 3,
um dos melhores do rock nacional, como nasceu?
SHY: O disco ‘Heróis 3’ foi gravado no estúdio ‘Nas Nuvens’
e, desta vez, produzido pelos Heróis e por Ricardo Garcia,
hoje um dos grandes masterizadores do Brasil. Na época ele estudava muito violão clássico e jazz,
atingindo o auge da fase técnica como guitarrista de rock. Por diversas vezes
fui citado pela crítica por ser um guitarrista diferenciado no rock nacional.
No mesmo período, comecei a sentir vontade de estudar ainda mais, de ir para os
EUA e me tornar um músico mais completo. O “Heróis 3” não foi um sucesso comercial, mas levou a banda
a rodar o Brasil. No final do ciclo, quando os músicos já se preparavam para um
novo trabalho, a Warner sofreu mudanças. O então presidente nacional Andre
Midani foi para a Warner Internacional, em Nova York, e a nova direção decidiu
dispensar todas as bandas de rock cujas vendas estavam em declínio.
MS: Então, Shy, quais
foram os prejuízos, afinal?
SHY: A casa de grandes sucessos do rock nacional, como Barão
Vermelho, Ira e Titãs, foi desmontada. Era o início do domínio de ritmos como
axé, lambada e sertanejo. Outro duro golpe contra os Heróis foi quando uma de
suas músicas inéditas, selecionada para abrir uma novela da Globo no horário
nobre, acabou cortada em cima da hora. Aquilo foi o sinal de que eu deveria
navegar outros mares e que meu ciclo nos Heróis da Resistência estava no fim.
Seis meses depois, o Leoni resolveu partir para carreira solo e foi o fim da
banda. O terceiro disco do grupo representou também o final de uma era de ouro
do rock nacional. A obra foi recentemente eleita como um dos dez melhores
discos de rock já produzidos no Brasil.
MS: E atualmente, como
resumiria sua carreira ainda curso?
SHY: Deixei os Heróis em 1992 e no ano seguinte me para Boston,
nos Estados Unidos, onde me graduei em composição na Berklee College of Music
no ano de 1998. A partir daí desenvolvi um trabalho autoral calcado no jazz e
na música instrumental brasileira. Lançei quatro discos: “Guitartales” e “Sonho
de Aviador”, ambos de 2001, “Crossing Path”, de 2013, e o recém-lançado
“Somebody’s Waiting”. Paralelamente, Shy atua como educador na Faculdade e
Conservatório Souza Lima, uma das mais importantes escolas de música São Paulo.
MS: Shy, muito obrigado
pelo bate papo.
SHY: Eu que agradeço a oportunidade de poder falar um pouco dos
Herois , uma banda que com certeza marcou o cenário do Rock nacional e que
ainda e muito curtida pelo pais afora e contar um pouco da minha carreira e
vida também. E para aqueles que tiverem
interesse em acompanhar as minhas atividades, cadastre e visite o www.shymusic.com.br. Forte Abs!
No comments:
Post a Comment