Thursday, December 22, 2011
Monday, December 19, 2011
Wednesday, December 07, 2011
Thursday, June 09, 2011
Artigo
Por Devana Babu
TigresaQuem me levou no Viela Sebo Café foi o Cris e o Léo. Cris é estudante de letras na UESB e trabalha com meu tio Maurício Sena no Hospital Regional de Vitória da Conquista. Ir sozinho seria meio paia, afinal não conheço nada nem ninguém. Tio Maurício está de "resguardo", pois acaba de nascer meu primo Bernardo Avelino, filho dele com tia Eliane Assunção.
"Cris, este é meu sobrinho", me apresentava tio Maurício em meu primeiro dia na cidade, em meus primeiros rolês. "Sua missão é levá-lo para tudo quanto é vagabundagem que tem nessa cidade. Ele chegou de Brasília agora e quer conhecer o movimento cultural e roqueiro da cidade, pois ele se mete com esses movimentos lá na capital. Agora, veja bem rapaz... nada de desviá-lo do mau caminho!". E foi assim que Cris se tornou meu cicerone, meu Caronte pelas águas infernais e gélidas do Aqueronte conquistense. Para minha sorte, Cris é uma figura muito massa, simpática, agradável e inteligente, e seu companheiro Léo também.
"O esquema aqui na cidade é o Viela, né não, Maurício? Toda quinta rola show do Movimento Fora do Eixo lá. Sexta e sábado também tem banda tocando. Inclusive, essa quinta a gente vai colar lá, tem um show de uma banda de Salvador".
Opa!, pensei. A coisa parece promissora. O movimento Fora do Eixo também realiza shows muito Bons lá em BSB, então é uma garantia de coisa boa. Então o esquema ficou já meio que pré-configurado. Tio Maurício ainda me apresentou a uma figura chamada Camila, pessoa que não deveria trabalhar na área de comunicação, mas na de maternidade, tal a prolíficidade de seus membros anteriores. Ou nos leitos, alegrando os pacientes, tal a transbordância de sua simpatia e de seu sorriso. Aliás, tudo ali transbordava encantadoramente, sem sobrar. Lembrei de um trecho de música de meu pai: "(...)Nos seus mamilos há própolis que paliam minha doença. Na tua bunda há saúde para três mil cancerosos(...)”.
Em casa, tio Maurício acessou o site Som da Tribo pra conferir a programação. “Distintivo Blue e Banda Neologia, Salvador”. Em anexo, um vídeo do youtube de um clipe deles. Não vimos grande coisa no som... um riff muito legal, uma pegada massa, mas um vocal meio anacrônico. A vocalista tinha uma voz muito bonita, mas parecia deslocada do contexto. Uma voz aguda, um tanto quanto lisa, digamos, possante mas retilínia. “É tipo uma Claudia leite do rock”, pensei. Assim, já não esperava muita coisa do show, embora nada deixasse a desejar. Pra minha sorte, não confio nas minhas primeiras impressões. Sei bem como elas podem ser errôneas ou descontextualizadas. Sei como uma música pode soar ruim fora de um álbum. Sei como uma gravação pode ser injusta. E sei, claro, como tem banda ruim nesse mundo.
Na quinta-feira, então, rumamos para a tal Viela. Camila não foi. Pena. Tio Maurício me deixou na casa de Cris e, dali, estaria entregue a minha própria sorte, o que é ótimo. Tio Fabinho falou sobre ir também, mas ele fala e esquece, de forma que se esperasse por ele estaria na casa de Mainha (avó) até agora. Tentei ligar pra ele inúmeras vezes, mas ele não atendia, pensando que era minha tia Márcia (“empreita”, quase podia ouví-lo dizer). Fazer o que. Da casa de Cris, depois que Léo chegou, fomos ao famigerado destino.
Um clássico local freqüentado pela galera que gosta de um bom som. São Sebastião não tem um lugar assim. Brasília tem alguns, mas a galera das satélites não freqüenta muito, porque tem que gastar muito dinheiro com passagens, ingressos e consumo. "Lugares assim”, que digo, é um pub, com espaço agradável, decoração alternativa e uma galera massa curtindo sons massas. Mas obviamente não tem nenhuma viela onde tem um sebo que é um café, em BSB. À esquerda temos um balcão repleto de bálsamos ilusórios sendo comercializados, ao pé de cujo balcão se sentam promessas e passageiros, efêmeros e errôneos. Ao centro, as mesas e cadeiras. E a direita, uma parede abarrotada de livros, VHSs, vinis e fitas de cima a baixo, de fora a fora. Em frente, o palco, guitarra, baixo e bateria, rock'n'roll. Parecia o meu lar. Tudo o que há de bom no mundo ali reunido. O público era meio que adulto. Adulto que digo é gente de uns vinte a quarenta anos, com cortes de cabelo sofisticados e moderninhos, roupas de cores incomuns (ocres, pasteis, negros, azuis), alternativas, e modos igualmente alternativos. Um típico público de faculdade, do tipo que ouve MPB, jazz, música cubana, rap africano e outras o obscuridades e blues. Isso pra generalizar, é obvio. E por falar em blues, o Distintivo Blues tocava, quando chegamos. Muito bons! Já os conhecia, desde quando comecei a mandar alguns textos meus para o site Som Da Tribo, que é muito foda. Mesmo de Brasília, sempre confiro as novidades da cidade, e o D.B. é uma banda que sempre pinta por lá. Assim como já tinha ouvido falar muito do viela por esse mesmo site. Miguel parece ser uma figura fascinante e muito importante para o rock local. Mais cedo, ouvi entrevista do D.B. na rádio UESB. Achei no mínimo questionável dizer que o blues é coisa recente (ainda que relativamente) no Brasil, mas anyway. O blues que mandaram nessa noite era meio acústico, o que ficou lindo.
Mas o que interessa aqui é a banda principal. Neologia.
Nos primeiros acordes, pensei: "Hum. Mais uma banda que toca versões animadinhas de MPB. Vai ver que nem curtem rock. Mas tocam pra caramba!". A essa altura estava sentado no sofazinho vermelho do viela, do lado da estantezinha giratória de livros, com belíssimos exemplares da literatura universal em formato de bolso. Estava me deleitando com um maravilhoso volume de poesias de Byron, capa amarela. Meus olhos faiscavam e minha mão coçava. Cris e Léo tinham ido "fumar". A banda começou a tocar Sítio do Pica-pau Amarelo. Houve quem protestasse e debochasse. Eu adorei. Adoro a música, que fez parte de minha infância, e a interpretação estava legal.
Mais tarde, resolvi ir lá pra frente pra sacar a banda melhor. Mas já estava embalado pelo som a essa altura.
Comecei a observar os músicos individualmente: um baixista de óculos escuros (?), um baterista de cabelo até os ombros com cara de marrento, um guitarrista de cabelos cacheados levemente grandes e ar de “simplório virtuoso”. Talvez fosse o mentor da banda, ou não, mas passava essa impressão (mais tarde, vi que ele compunha boa parte das músicas). Mas o que me chamou atenção mesmo foi a vocalista (aquela que eu rotulei como Claudia Leite do rock). Não por ser uma mulher, ou por ser uma mulher bonita, ou por ser uma mulher bonita liderando uma banda de rock. Bem, quantas destas não existem? Isso não é o bastante para me impressionar.
Mas quando cheguei à boca do palco e vi aquela figura feminina derramando-se no palco, cantando versões tão viscerais de canções de MPB tão significativas... comecei a me derreter e romper minhas barreiras. Primeiro, me encantei pelo repertório, escolhido a dedo. Porém, muitas bandas têm um repertório até parecido. Depois, pela performance da moça... ou pelo conjunto estético que formava a sua presença ali:
Dona de uma beleza clássica de cantoras de MPB, ou, diria, uma beleza tipicamente baiana (digo isso sem uma gota de estereótipo), com uma blusa larga, esvoaçante, com rendas e cores claras, colares de contas e coisas assim, calça jeans e sandálias, numa espécie de êxtase glamouroso da simplicidade. O que poderia ser ruim, mas era bom. Cabelos cacheados castanho escuros (típicos!). Rosto aberto e sorriso fácil. E uma intensidade ao cantar que me derrubou. Vi seus olhos faiscarem. Sua garganta intumescer-se e avolumar-se ao esforço descomunal, ao mesmo tempo em que enrubescia junto com as faces, como que imersas no mais escaldante molho ou no mais ardente dos infernos. Os cabelos cacheados, embebidos (embusbebados?). Uma névoa vaporosa lhe circundando como uma aura mágica. E agora, a parte que mais me emocionou nisso tudo. Sei que podem protestar, me achar o mais terrível dos mortais ou me acusar de sérios complexos edipianos, mas sei no meu íntimo que não é verdade. E se for, e daí? Tô nem aí. Disso, porém, certamente sofriam outros pobres mortais que ali perto do palco estavam, vítimas da própria testosterona, ávidos por uma gota de atenção, sinceramente crentes de que poderiam levar a dona do palco para suas camas, ou de que tinham a obrigação de tentar, desferindo as mais cretinas e inférteis observações e elogios, os mais estéreis gritos e as mais tolas ovações. Tenho ainda John Lennon a meu favor! (Por quê?) justo nesse dia assisti "O Garoto de Liverpool", dado a mim por tio Fabinho, uma cópia pirata muito bem feita das que só ele sabe encontrar (já me deu inúmeros DVDs de Rock de igual qualidade “inincontráveis” em São Sebastião). No filme, uma cena advocacional: A mãe “pra frente” do jovem John lhe pergunta: "Você sabe o que quer dizer rock'n'roll?", ao que o ainda tolo J.L. diz que não, e ao que ela aproxima seu rosto do dele de forma impetuosa e sussurra, com um certo estalar do palato que, se não é lascividade não direcionada, eu não sei o que é: "Sexo.", ela diz.
E é isso! Rock é sexo. E o que não é? Como disse tio Cláudio: Eros está em todo lugar.
Mas voltando ao assunto: a parte que mais me emocionou... O momento mais rock’n’roll desse alucinante delírio: o delta, o vão e o contorno gotejantes de seus seios. Eu sentia calor só de vê-la, ou só de vê-los. As sudoríparas gotículas espargiam-se encantadoramente pelos seus morenos seios intumescidos, excitados de música, evolando-se numa névoa púrpura, como se ela fosse um turíbulo mágico. Ela era um turíbulo efervescente que nos aspergia com o seu sagrado molho, molhando-nos a todos com seu miraculoso bálsamo. E eu ali, concentrado, imerso, hipnotizado, absorto na sua feitiçaria, na sua macumba, no seu “I Put a Spell on You”, viajando solenemente da curvatura de seu longo e elegante pescoço para o abismo perigoso dos seus seios protuberantes e dali para os seus cantantes lábios que não se moviam, mas dançavam em torno do seu microfone fetichista, e de lá pros seus olhos siderais, e então pros seus quadris bruxuleantes, e então pro seu gineceu serpenteante, e de volta pros abismos abissais numa eterna montanha russa que nunca me cansava.
Mal sabiam aqueles tolos que ali celebravam comigo que a moça estava se despindo inteirinha no palco, a cada palavra, a cada letra, a cada som, solo. Ela estava copulando ali no palco e ninguém sabia, cegos de testosterona e tolice.
Uma tigresa de unhas negras e olhos cor de mel. Juro que foi a melhor versão da música de Caetano Veloso que já vi, e olhe que Ney Matogrosso é um páreo duro. Sua voz era massa, aguda, um tanto quanto lisa, digamos, possante mas retilínea, o que era lindo!
A música principal deles tinha um agradabilíssimo riff de guitarra e um arranjo fantástico, e a voz se adequava perfeitamente, sem o menor anacronismo.
No fim do show, estava bêbado de som. Não sei por que diabos, por que feitiço estranho, por que imperativo impulso do cosmos, no meio de tantos indivíduos ela veio falar comigo na saída, espontaneamente.
Aliás, eu sei: pois se tínhamos acabado de fazer sexo!
"Cris, este é meu sobrinho", me apresentava tio Maurício em meu primeiro dia na cidade, em meus primeiros rolês. "Sua missão é levá-lo para tudo quanto é vagabundagem que tem nessa cidade. Ele chegou de Brasília agora e quer conhecer o movimento cultural e roqueiro da cidade, pois ele se mete com esses movimentos lá na capital. Agora, veja bem rapaz... nada de desviá-lo do mau caminho!". E foi assim que Cris se tornou meu cicerone, meu Caronte pelas águas infernais e gélidas do Aqueronte conquistense. Para minha sorte, Cris é uma figura muito massa, simpática, agradável e inteligente, e seu companheiro Léo também.
"O esquema aqui na cidade é o Viela, né não, Maurício? Toda quinta rola show do Movimento Fora do Eixo lá. Sexta e sábado também tem banda tocando. Inclusive, essa quinta a gente vai colar lá, tem um show de uma banda de Salvador".
Opa!, pensei. A coisa parece promissora. O movimento Fora do Eixo também realiza shows muito Bons lá em BSB, então é uma garantia de coisa boa. Então o esquema ficou já meio que pré-configurado. Tio Maurício ainda me apresentou a uma figura chamada Camila, pessoa que não deveria trabalhar na área de comunicação, mas na de maternidade, tal a prolíficidade de seus membros anteriores. Ou nos leitos, alegrando os pacientes, tal a transbordância de sua simpatia e de seu sorriso. Aliás, tudo ali transbordava encantadoramente, sem sobrar. Lembrei de um trecho de música de meu pai: "(...)Nos seus mamilos há própolis que paliam minha doença. Na tua bunda há saúde para três mil cancerosos(...)”.
Em casa, tio Maurício acessou o site Som da Tribo pra conferir a programação. “Distintivo Blue e Banda Neologia, Salvador”. Em anexo, um vídeo do youtube de um clipe deles. Não vimos grande coisa no som... um riff muito legal, uma pegada massa, mas um vocal meio anacrônico. A vocalista tinha uma voz muito bonita, mas parecia deslocada do contexto. Uma voz aguda, um tanto quanto lisa, digamos, possante mas retilínia. “É tipo uma Claudia leite do rock”, pensei. Assim, já não esperava muita coisa do show, embora nada deixasse a desejar. Pra minha sorte, não confio nas minhas primeiras impressões. Sei bem como elas podem ser errôneas ou descontextualizadas. Sei como uma música pode soar ruim fora de um álbum. Sei como uma gravação pode ser injusta. E sei, claro, como tem banda ruim nesse mundo.
Na quinta-feira, então, rumamos para a tal Viela. Camila não foi. Pena. Tio Maurício me deixou na casa de Cris e, dali, estaria entregue a minha própria sorte, o que é ótimo. Tio Fabinho falou sobre ir também, mas ele fala e esquece, de forma que se esperasse por ele estaria na casa de Mainha (avó) até agora. Tentei ligar pra ele inúmeras vezes, mas ele não atendia, pensando que era minha tia Márcia (“empreita”, quase podia ouví-lo dizer). Fazer o que. Da casa de Cris, depois que Léo chegou, fomos ao famigerado destino.
Um clássico local freqüentado pela galera que gosta de um bom som. São Sebastião não tem um lugar assim. Brasília tem alguns, mas a galera das satélites não freqüenta muito, porque tem que gastar muito dinheiro com passagens, ingressos e consumo. "Lugares assim”, que digo, é um pub, com espaço agradável, decoração alternativa e uma galera massa curtindo sons massas. Mas obviamente não tem nenhuma viela onde tem um sebo que é um café, em BSB. À esquerda temos um balcão repleto de bálsamos ilusórios sendo comercializados, ao pé de cujo balcão se sentam promessas e passageiros, efêmeros e errôneos. Ao centro, as mesas e cadeiras. E a direita, uma parede abarrotada de livros, VHSs, vinis e fitas de cima a baixo, de fora a fora. Em frente, o palco, guitarra, baixo e bateria, rock'n'roll. Parecia o meu lar. Tudo o que há de bom no mundo ali reunido. O público era meio que adulto. Adulto que digo é gente de uns vinte a quarenta anos, com cortes de cabelo sofisticados e moderninhos, roupas de cores incomuns (ocres, pasteis, negros, azuis), alternativas, e modos igualmente alternativos. Um típico público de faculdade, do tipo que ouve MPB, jazz, música cubana, rap africano e outras o obscuridades e blues. Isso pra generalizar, é obvio. E por falar em blues, o Distintivo Blues tocava, quando chegamos. Muito bons! Já os conhecia, desde quando comecei a mandar alguns textos meus para o site Som Da Tribo, que é muito foda. Mesmo de Brasília, sempre confiro as novidades da cidade, e o D.B. é uma banda que sempre pinta por lá. Assim como já tinha ouvido falar muito do viela por esse mesmo site. Miguel parece ser uma figura fascinante e muito importante para o rock local. Mais cedo, ouvi entrevista do D.B. na rádio UESB. Achei no mínimo questionável dizer que o blues é coisa recente (ainda que relativamente) no Brasil, mas anyway. O blues que mandaram nessa noite era meio acústico, o que ficou lindo.
Mas o que interessa aqui é a banda principal. Neologia.
Nos primeiros acordes, pensei: "Hum. Mais uma banda que toca versões animadinhas de MPB. Vai ver que nem curtem rock. Mas tocam pra caramba!". A essa altura estava sentado no sofazinho vermelho do viela, do lado da estantezinha giratória de livros, com belíssimos exemplares da literatura universal em formato de bolso. Estava me deleitando com um maravilhoso volume de poesias de Byron, capa amarela. Meus olhos faiscavam e minha mão coçava. Cris e Léo tinham ido "fumar". A banda começou a tocar Sítio do Pica-pau Amarelo. Houve quem protestasse e debochasse. Eu adorei. Adoro a música, que fez parte de minha infância, e a interpretação estava legal.
Mais tarde, resolvi ir lá pra frente pra sacar a banda melhor. Mas já estava embalado pelo som a essa altura.
Comecei a observar os músicos individualmente: um baixista de óculos escuros (?), um baterista de cabelo até os ombros com cara de marrento, um guitarrista de cabelos cacheados levemente grandes e ar de “simplório virtuoso”. Talvez fosse o mentor da banda, ou não, mas passava essa impressão (mais tarde, vi que ele compunha boa parte das músicas). Mas o que me chamou atenção mesmo foi a vocalista (aquela que eu rotulei como Claudia Leite do rock). Não por ser uma mulher, ou por ser uma mulher bonita, ou por ser uma mulher bonita liderando uma banda de rock. Bem, quantas destas não existem? Isso não é o bastante para me impressionar.
Mas quando cheguei à boca do palco e vi aquela figura feminina derramando-se no palco, cantando versões tão viscerais de canções de MPB tão significativas... comecei a me derreter e romper minhas barreiras. Primeiro, me encantei pelo repertório, escolhido a dedo. Porém, muitas bandas têm um repertório até parecido. Depois, pela performance da moça... ou pelo conjunto estético que formava a sua presença ali:
Dona de uma beleza clássica de cantoras de MPB, ou, diria, uma beleza tipicamente baiana (digo isso sem uma gota de estereótipo), com uma blusa larga, esvoaçante, com rendas e cores claras, colares de contas e coisas assim, calça jeans e sandálias, numa espécie de êxtase glamouroso da simplicidade. O que poderia ser ruim, mas era bom. Cabelos cacheados castanho escuros (típicos!). Rosto aberto e sorriso fácil. E uma intensidade ao cantar que me derrubou. Vi seus olhos faiscarem. Sua garganta intumescer-se e avolumar-se ao esforço descomunal, ao mesmo tempo em que enrubescia junto com as faces, como que imersas no mais escaldante molho ou no mais ardente dos infernos. Os cabelos cacheados, embebidos (embusbebados?). Uma névoa vaporosa lhe circundando como uma aura mágica. E agora, a parte que mais me emocionou nisso tudo. Sei que podem protestar, me achar o mais terrível dos mortais ou me acusar de sérios complexos edipianos, mas sei no meu íntimo que não é verdade. E se for, e daí? Tô nem aí. Disso, porém, certamente sofriam outros pobres mortais que ali perto do palco estavam, vítimas da própria testosterona, ávidos por uma gota de atenção, sinceramente crentes de que poderiam levar a dona do palco para suas camas, ou de que tinham a obrigação de tentar, desferindo as mais cretinas e inférteis observações e elogios, os mais estéreis gritos e as mais tolas ovações. Tenho ainda John Lennon a meu favor! (Por quê?) justo nesse dia assisti "O Garoto de Liverpool", dado a mim por tio Fabinho, uma cópia pirata muito bem feita das que só ele sabe encontrar (já me deu inúmeros DVDs de Rock de igual qualidade “inincontráveis” em São Sebastião). No filme, uma cena advocacional: A mãe “pra frente” do jovem John lhe pergunta: "Você sabe o que quer dizer rock'n'roll?", ao que o ainda tolo J.L. diz que não, e ao que ela aproxima seu rosto do dele de forma impetuosa e sussurra, com um certo estalar do palato que, se não é lascividade não direcionada, eu não sei o que é: "Sexo.", ela diz.
E é isso! Rock é sexo. E o que não é? Como disse tio Cláudio: Eros está em todo lugar.
Mas voltando ao assunto: a parte que mais me emocionou... O momento mais rock’n’roll desse alucinante delírio: o delta, o vão e o contorno gotejantes de seus seios. Eu sentia calor só de vê-la, ou só de vê-los. As sudoríparas gotículas espargiam-se encantadoramente pelos seus morenos seios intumescidos, excitados de música, evolando-se numa névoa púrpura, como se ela fosse um turíbulo mágico. Ela era um turíbulo efervescente que nos aspergia com o seu sagrado molho, molhando-nos a todos com seu miraculoso bálsamo. E eu ali, concentrado, imerso, hipnotizado, absorto na sua feitiçaria, na sua macumba, no seu “I Put a Spell on You”, viajando solenemente da curvatura de seu longo e elegante pescoço para o abismo perigoso dos seus seios protuberantes e dali para os seus cantantes lábios que não se moviam, mas dançavam em torno do seu microfone fetichista, e de lá pros seus olhos siderais, e então pros seus quadris bruxuleantes, e então pro seu gineceu serpenteante, e de volta pros abismos abissais numa eterna montanha russa que nunca me cansava.
Mal sabiam aqueles tolos que ali celebravam comigo que a moça estava se despindo inteirinha no palco, a cada palavra, a cada letra, a cada som, solo. Ela estava copulando ali no palco e ninguém sabia, cegos de testosterona e tolice.
Uma tigresa de unhas negras e olhos cor de mel. Juro que foi a melhor versão da música de Caetano Veloso que já vi, e olhe que Ney Matogrosso é um páreo duro. Sua voz era massa, aguda, um tanto quanto lisa, digamos, possante mas retilínea, o que era lindo!
A música principal deles tinha um agradabilíssimo riff de guitarra e um arranjo fantástico, e a voz se adequava perfeitamente, sem o menor anacronismo.
No fim do show, estava bêbado de som. Não sei por que diabos, por que feitiço estranho, por que imperativo impulso do cosmos, no meio de tantos indivíduos ela veio falar comigo na saída, espontaneamente.
Aliás, eu sei: pois se tínhamos acabado de fazer sexo!
Tuesday, May 31, 2011
Farinha pouca, meu pirão primeiro!
Sábado, ali chegando ao meio dia, voltava das compras de alguns apetrechos domésticos, quando me deparei com um velho amigo, Chico Pahz, montando sua companheira antiga, uma mobilete. Artista das antigas de Conquista, Chico domina como poucos a arte de cantar a música regional, passeando soberano pela obra elomariana e tantas outras, utilizando-se de um fino humor e uma performática de ator adquirida ao longo de sua longa trajetória nos caminhos e descaminhos culturais. Um artista completo.
Com Chico, comecei a tocar contra-baixo, em 1994, e num cubículo dentro do Seminário dos Capuchinhos aconteciam os ensaios. Meu instrumento, um Jennifer, originalmente azul, oriundo de Brasília, que por uma invenção sem explicação resolvi pintar de vermelho. Eu imaginava, no retorno, um instrumento Ferrari, cujos reflexos na contraposição à luz o fizesse brilhar com toda a pompa de um instrumento novinho em folha.
Não sei exatamente o motivo, talvez apenas por uma grande incompetência do pintor, ele me voltou com um marron fosco, com aspecto de pintado a pincel, onde uma camada se sobrepunha a outra, e em que alguns espaços ficavam aquela gota de tinta esperando a última pincelada. Como as cordas eram surradas e estas mesmas voltaram para o baixo brown, e a pintura nova comprometera desastrosamente sua sonoridade, o instrumento tornara-se uma relíquia, como se retirada de escombros, ainda nos tempos dos faraós, como se tivesse sido tocado por Tutancâmon. Resumindo, transformou-se em um baixo surdo e acreditem, pasmem, como ele ficou horrível. E eu, aprendiz, imaginem o resultado. Empareado com Cid Vicious.
Mas voltemos para o tema central. Encontro Chico, acompanhado do seu cunhado Netinho, a quem pergunto sobre a agenda para o período junino. Netinho me diz que pegou pequenos cachês e que a coisa não estava lá a mais satisfatória.
Nisso, Chico pega o gancho e inicia uma avaliação muito interessante e engraçada, que me inspirou o texto. Maurício, diz ele, em tempo de São João todo mundo vira forrozeiro. Roqueiro, axezeiro, pagodeiro. Pegam uma camisa quadriculada, metem um cinto com uma fivela enorme, um chapéu de palha ou de couro e pronto, surge mais um forrozeiro.
Eu ri. Depois ponderei. E ri mais. Refleti e continuei rindo. Chico e Netinho, animados com meus frouxos risos, continuavam a falar dos forrozeiros “temporões”. Festas e mais festas cobertas por caras que faziam de tudo no mundo da música e quando chegam em junho, agarram um teclado (aaargh!), uma zabumba e um triangulo e pé na estrada se auto intitulando forrozeiro. Por onde anda Luiz Gonzaga hora destas?
Esta prosa me fez recordar de outra prosa que tive no programa de rádio da Uesb FM, com Caíque, que comanda o Cult Mix, a propósito de muito bom gosto, como já disse ao próprio na oportunidade. Enfim, falávamos não de quanto se cobra, mas de quanto se paga por um show em barzinho de Conquista.
Primeiro avaliamos que os donos de bares é que são canguinhas e exploram os músicos. E isto é fato. Depois, disse a Caique o problema nascia no próprio artista, culpado pela indexação, pelo seu paupérrimo valor de mercado. Conquista tem muitos músicos bons e mais uma grande farra de músicos ruins. Os ruins são todos promíscuos e alguns bons, extremamente pobres de espírito, permitem que seu cachê fique na casa dos 70 ou 100 reais. É um dinheiro que costumo denominar de maldito, porque o sujeito acaba com tudo no pé do balcão onde tocou, e o restante gasta de táxi e no dia seguinte ganha uma ótima ressaca.
Então, não há surpresa neste sentido. Os tempos mudaram e mudaram horrivelmente. A arte popular e tantas outras manifestações viraram casa da mãe Joana, onde tudo quando é pau de bosta mete-se a explorar, sem compromisso com nada, a não ser com o baixo cachê, pago prazerosamente pelo dono de bar, que nem sempre tem que dá explicações a sua clientela de gosto musical, digamos, eclético, se é que me entendem.
Chico César, num surto sábio e racional, a bem da cultura genuinamente nordestina, deu uma banana para os temporões. Estas bandas ridículas, plastificadas, que de tempos em tempos correm o interior dos estados nordestinos tocando o que há de pior e zerando o caixa das prefeituras. Resolveu, sob a santa batuta que era a sua caneta, contratar os fiéis, leais e puritanos artistas nordestinos, os colocando em posição de merecido privilégio.
Eu torço para que em Conquista este sincretismo musical não aprofunde tanto e que cada um possa pegar sua onda, pra não ter que morrer na praia alheia. É fundamental que respeitem o curso dos seus rios, e quando o leito secar, nao vá roubar na cacimba do vizinho, faça como bom nordestino, se apegue com Deus e espere chover.
Com Chico, comecei a tocar contra-baixo, em 1994, e num cubículo dentro do Seminário dos Capuchinhos aconteciam os ensaios. Meu instrumento, um Jennifer, originalmente azul, oriundo de Brasília, que por uma invenção sem explicação resolvi pintar de vermelho. Eu imaginava, no retorno, um instrumento Ferrari, cujos reflexos na contraposição à luz o fizesse brilhar com toda a pompa de um instrumento novinho em folha.
Não sei exatamente o motivo, talvez apenas por uma grande incompetência do pintor, ele me voltou com um marron fosco, com aspecto de pintado a pincel, onde uma camada se sobrepunha a outra, e em que alguns espaços ficavam aquela gota de tinta esperando a última pincelada. Como as cordas eram surradas e estas mesmas voltaram para o baixo brown, e a pintura nova comprometera desastrosamente sua sonoridade, o instrumento tornara-se uma relíquia, como se retirada de escombros, ainda nos tempos dos faraós, como se tivesse sido tocado por Tutancâmon. Resumindo, transformou-se em um baixo surdo e acreditem, pasmem, como ele ficou horrível. E eu, aprendiz, imaginem o resultado. Empareado com Cid Vicious.
Mas voltemos para o tema central. Encontro Chico, acompanhado do seu cunhado Netinho, a quem pergunto sobre a agenda para o período junino. Netinho me diz que pegou pequenos cachês e que a coisa não estava lá a mais satisfatória.
Nisso, Chico pega o gancho e inicia uma avaliação muito interessante e engraçada, que me inspirou o texto. Maurício, diz ele, em tempo de São João todo mundo vira forrozeiro. Roqueiro, axezeiro, pagodeiro. Pegam uma camisa quadriculada, metem um cinto com uma fivela enorme, um chapéu de palha ou de couro e pronto, surge mais um forrozeiro.
Eu ri. Depois ponderei. E ri mais. Refleti e continuei rindo. Chico e Netinho, animados com meus frouxos risos, continuavam a falar dos forrozeiros “temporões”. Festas e mais festas cobertas por caras que faziam de tudo no mundo da música e quando chegam em junho, agarram um teclado (aaargh!), uma zabumba e um triangulo e pé na estrada se auto intitulando forrozeiro. Por onde anda Luiz Gonzaga hora destas?
Esta prosa me fez recordar de outra prosa que tive no programa de rádio da Uesb FM, com Caíque, que comanda o Cult Mix, a propósito de muito bom gosto, como já disse ao próprio na oportunidade. Enfim, falávamos não de quanto se cobra, mas de quanto se paga por um show em barzinho de Conquista.
Primeiro avaliamos que os donos de bares é que são canguinhas e exploram os músicos. E isto é fato. Depois, disse a Caique o problema nascia no próprio artista, culpado pela indexação, pelo seu paupérrimo valor de mercado. Conquista tem muitos músicos bons e mais uma grande farra de músicos ruins. Os ruins são todos promíscuos e alguns bons, extremamente pobres de espírito, permitem que seu cachê fique na casa dos 70 ou 100 reais. É um dinheiro que costumo denominar de maldito, porque o sujeito acaba com tudo no pé do balcão onde tocou, e o restante gasta de táxi e no dia seguinte ganha uma ótima ressaca.
Então, não há surpresa neste sentido. Os tempos mudaram e mudaram horrivelmente. A arte popular e tantas outras manifestações viraram casa da mãe Joana, onde tudo quando é pau de bosta mete-se a explorar, sem compromisso com nada, a não ser com o baixo cachê, pago prazerosamente pelo dono de bar, que nem sempre tem que dá explicações a sua clientela de gosto musical, digamos, eclético, se é que me entendem.
Chico César, num surto sábio e racional, a bem da cultura genuinamente nordestina, deu uma banana para os temporões. Estas bandas ridículas, plastificadas, que de tempos em tempos correm o interior dos estados nordestinos tocando o que há de pior e zerando o caixa das prefeituras. Resolveu, sob a santa batuta que era a sua caneta, contratar os fiéis, leais e puritanos artistas nordestinos, os colocando em posição de merecido privilégio.
Eu torço para que em Conquista este sincretismo musical não aprofunde tanto e que cada um possa pegar sua onda, pra não ter que morrer na praia alheia. É fundamental que respeitem o curso dos seus rios, e quando o leito secar, nao vá roubar na cacimba do vizinho, faça como bom nordestino, se apegue com Deus e espere chover.
Friday, May 20, 2011
Linceça paternidade
Não sei porque - mas suspeito que seja perda de memória - não tenho muitas lembranças sobre a minha licença paternidade quando do nascimento de Thais e Amine, minhas duas moças de 13 e 11 anos. Agora, com o nascimento de Bernardo Avelino, tive a medida exata da importância da licença. Suspeitei até que havia emagrecido nestes cinco dias, tamanha a empreitada nos cuidados que cabem ao pai. Jean, um colega de trabalho, sem rodeios tirou-me a felicidade de ter diminuido meu estado adiposo, dizendo que não percebera alteração nenhuma. Algo do tipo: você continua gordo, Maurício! Obrigado pelo estímulo, Jean.
Eu sei que apoio qualquer movimento que proponha mais que cinco dias de licença paternidade. É impraticável operacionalizar tanta coisa em prazo tão escasso. Mas, meu sobrenome é trabalho, e não fujo à luta! Deus tá vendo!
Reclamações à parte, o mais importante é saber que meu filho nasceu, está bem, saudável, mamando com vontade e consumindo sozinho uma produção de leite materno interminável, da qual ele não perde uma gota. Cresceu muito em apenas 4 dias. Espero que não cresça - horizontalmente - tal qual o pai.
Sunday, May 15, 2011
Abra-te sésamo!
Fiz este blog em janeiro de 2007. Estava empolgado com minha carreira musical, que parecia ganhar corpo. No ano seguinte, houve um resfriamento desta empolgação. Parei de tudo, ou quase tudo. Com isso, o blog que havia sido concebido com este propósito, também apagou-se e tanto apagou-se, que esqueci senha, esqueci tudo. O tempo passou e tentei uma ou duas vezes recuperar a senha e retomar o blogo, que sequer começou, mas, desistia facilmente, por impaciência.
Lá se vão 5 anos e 4 meses e eis que nesta madrugada insólita de 2011, muito despropositadamente, eis-me aqui, o com a redescoberta do meu blog, num abra-te sésamo -que curiosamente significa Abra-te Gergelim! - virtual que me deixou muito felicitado. Isso porque, há cinco anos, blog era algo muito novo, e eu fui um dos primeiros usuários, e me adiantei às centenas de homônimos meus. Massa!!
Enfim, estou comemorando nestas 02:47 de 16 de maio de 2011, a recuperação do meu blog. Agora vejamos o que faço daqui pra frente.
O anúncio mais importante e atual, que devo inclusive anunciar, é que após a alegria de Thaís ter chegado há quase 13 anos, e Amine há quase 11 anos, aguardo talvez para o dia de hoje, a chegada daquele que denomimei de "O último", Bernardo.
Vida longa ao meu caçula!
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